AMEAÇA GRAVE EM MIGUEL BURNIER, EM OURO PRETO, MG, A CEMITÉRIO DE PESSOAS ESCRAVIZADAS: Racismo Ambiental e Danos ao Patrimônio Histórico, Arquitetônico, Arqueológico, Paisagístico e Natural. Por frei Gilvander Moreira[1]
A seta indica local onde se encontra o Antigo Cemitério. A obra avança e ameaça o Conjunto Histórico, Arquitetônico e Histórico Nossa Senhora Auxiliadora de Calastrois em Miguel Burnier, Ouro Preto, MG. Fotos: CPT/MGInaceitável uma obra que está sendo realizada
no distrito de Miguel Burnier, município de Ouro Preto, MG, pela empreiteira Nóbrega
Pimenta, que está fazendo terraplanagem, movimentação de terra e desmatamento de
vegetação nativa literalmente, ao lado do Conjunto Cultural, Histórico, Arquitetônico
e Arqueológico da Igreja Nossa Senhora Auxiliadora de Calastrois. Faz parte do
Conjunto, além da edificação da antiga Igreja, Coreto, Cemitério atual e o
Antigo Cemitério das pessoas escravizadas da Comunidade de São Julião,
constituído por muros de alvenaria de pedra. A obra de terraplanagem está avançando
na direção deste importante Conjunto cultural, histórico e arqueológico, em
especial do Cemitério Antigo, o que está gerando grande preocupação, já tendo
comprometido a sua ambiência. O Cemitério é importante relíquia do século XVIII
da memória das pessoas escravizadas e de seus ancestrais, se tratando de campo
sagrado de interesse material e imaterial para a profunda história de Minas
Gerais. Inadmissível a destruição de patrimônio de extraordinário valor
cultural, histórico e arqueológico.
Este mesmo Conjunto histórico, dentre
outros na localidade, já foi objeto de pesquisa tendo sido mencionado em um
grande livro referente à memória de São Julião intitulado: “Marcas Históricas - Miguel Burnier”, datado
de 2012 (cf. p. 209 a 217), organizados pelos historiadores e arqueólogos
Alenice Baeta e Henrique Piló. Este belíssimo Conjunto Cultural também foi
objeto de inventário em 2007 e de tombamento municipal em 27 de novembro de
2012, em função da necessidade de sua proteção eficaz e da sua grande significância
patrimonial. Não podemos permitir que empreendimentos minerários continuem
colocando em risco os já tão ameaçados patrimônios históricos, arqueológicos, arquitetônicos
e culturais de Miguel Burnier. Exigimos a paralisação imediata da obra e o cercamento,
considerando uma zona de entorno dos muros de pedra do cemitério urgentemente.
Devastando o ambiente estão várias retroescavadeiras
e mais de dez caminhões em área já devastada em plena área urbana de Miguel
Burnier. Ninguém viu? Quem fiscaliza? Há risco brutal de continuidade de devastação
e destruição do Conjunto Cultural, Histórico, Arqueológico e Arquitetônico de
imenso valor cultural.
Esperamos de todas as autoridades
implicadas providências urgentes que garantam a proteção eficaz dos bens
culturais dessa importante região do município de Ouro Preto, em especial do
Cemitério Antigo. Um povo que pisoteia na sua história não merece continuar
vivendo. Exigimos respeito aos nossos ancestrais, a todos os bons espíritos e
ao ambiente recheado de história.
O distrito de Miguel Burnier parece atualmente
um cenário de guerra. O antigo São Julião, tornou-se território de sacrifício,
sendo mutilado por projetos de mineração degradantes permanentes que avançam
diariamente sobre o seu patrimônio hídrico, biodiversidade, paisagístico,
arqueológico e arquitetônico. Sua população remanescente resiste sofrendo em
meio a tanta degradação ambiental, sob a égide de um regime de necropolítica
que se instalou nesta localidade há tempos com a omissão/conivência dos órgãos
patrimoniais, municipais, estaduais e do Ministério Público de Minas Gerais.
Com esta brutal violência ao patrimônio
cultural, histórico, arqueológico e arquitetônico, a cidade e município de Ouro
Preto faz por merecer perder o status de Patrimônio Mundial pela UNESCO[2]
por ser conivente com atividades lesivas ao seu patrimônio cultural e com a
minerodependência que domina e sufoca esta região e sua população há séculos. Enfim,
feliz de um povo que preserva seu Patrimônio Cultural, Histórico, Arqueológico,
Arquitetônico e Natural. Ai de um povo que tritura no altar do ídolo mercado
seu Patrimônio Cultural, Histórico e Natural.
Para ilustrar este cenário devastador, seguem
fotos com legendas que indicam a situação preocupante da antiga vila de São
Julião, distrito de Miguel Burnier.
Detalhe de publicação (Org.
BAETA, A. & PILÓ, H. Marcas Históricas, Miguel Burnier, 2012, p. 216), que
menciona o Cemitério Antigo e ambiência (cemitério de pessoas escravizadas
cercado por muros de pedra), que faz parte do Conjunto Histórico, Arquitetônico
e Arqueológico de Nossa Senhora Auxiliadora de Calastrois em Miguel Burnier,
Ouro Preto, MG.
Detalhe de Cruz de Ferro que
indica um antigo túmulo no cemitério das pessoas escravizadas. Conjunto Histórico,
Arquitetônico e Arqueológico de Nossa Senhora Auxiliadora de Calastrois. Miguel
Burnier, Ouro Preto, MG.
Detalhe de antigo túmulo no cemitério das pessoas escravizadas. Conjunto Histórico, Arquitetônico e Arqueológico de Nossa Senhora Auxiliadora de Calastrois. Miguel Burnier, Ouro Preto, MG.
Detalhe de trecho de alvenaria de pedras do cemitério das pessoas escravizadas em meio ao Campo Rupestre Ferruginoso. Conjunto Histórico, Arquitetônico e Arqueológico de Nossa Senhora Auxiliadora de Calastrois. Miguel Burnier, Ouro Preto, MG.
Obs.: As videorreportagens nos links, abaixo, versam sobre o assunto
relativo ao tratado, acima, na mesma região.
1 -
Gerdau amplia mineração em Chrockatt de Sá, Ouro Preto/MG, devasta região e
acaba com água. Vídeo 1
2 -
Gerdau (des)mata nascentes, contamina água e deixa famílias tomando água
contaminada/Chrockatt de Sá
3 -
Gerdau faz famílias tomarem água contaminada com metais pesados em Chrockatt de
Sá em Ouro Preto/MG?
4 -
Gerdau, Zema e TJMG, “projeto econômico” acima do direito à vida? - Chrockatt
de Sá, Ouro Preto/MG
[1]
Frei e padre da Ordem dos carmelitas; doutor em Educação pela FAE/UFMG;
licenciado e bacharel em Filosofia pela UFPR; bacharel em Teologia pelo
ITESP/SP; mestre em Exegese Bíblica pelo Pontifício Instituto Bíblico, em Roma,
Itália; agente e assessor da CPT/MG, assessor do CEBI e Ocupações Urbanas;
prof. de Teologia bíblica no SAB (Serviço de Animação Bíblica), em Belo
Horizonte, MG; colunista dos sites www.domtotal.com
, www.brasildefatomg.com.br
, www.revistaconsciencia.com
, www.racismoambiental.net.br
e outros. E-mail: gilvanderlm@gmail.com
– www.gilvander.org.br
– www.freigilvander.blogspot.com.br
– www.twitter.com/gilvanderluis
– Facebook: Gilvander Moreira
III
[2]
Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura.