Assembleia
de Minas afronta criança sem-casa. Por que uma criança pode viver sem casa e um
deputado, não?
Por
Helcio Zolini.
Enquanto
na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), suas excelências se reuniam dia
10 de fevereiro de 2015 para votarem em causa própria e aprovar auxílio-moradia
que pode chegar a R$ 4.377,73 para cada um dos 77 deputados, milhares de
famílias de sem-teto acampadas em todo o Brasil (mais de 200 mil) se preparavam
para enfrentar mais uma noite de medo, provocado pela ameaça de chuva forte que
poderia desabar sobre suas cabeças e destruir seus barracos improvisados, e
pelo pesadelo constante de uma iminente expulsão por parte da Polícia Militar.
Os
senhores parlamentares (nem todos, felizmente) quando se reuniram não pareciam
estar preocupados nem um pouco com a situação dos que não têm onde morar e
muito menos dos que não têm o que comer, mas apenas com os próprios bolsos.
Para tanto, encontravam-se confortavelmente instalados em suas poltronas de
couro, muito bem abrigados da chuva, cercados de assessores, com direito a
cafezinho, água, lanche, ar-condicionado e outras mordomias que o cargo lhes
asseguram. Além, é claro, do salário mensal de R$ 25.322,25.
A
ALMG fica no rico e elegante bairro Santo Agostinho, região privilegiada da
capital mineira. Não muito longe dali, porém, para citar apenas um caso, na
divisa de Belo Horizonte com Santa Luzia, milhares de famílias de sem-teto (cerca
de 8 mil famílias) se encontram acampadas precariamente na área da Isidora, uma
das 400 ocupações existentes em Minas Gerais, promovidas de maneira irregular
por pessoas abandonadas à própria sorte pelo poder público. E que vão
sobrevivendo como podem, sem água, esgoto e as mínimas condições de higiene e
segurança.
Num
dos barracos de um daqueles acampamentos, na Ocupação Esperança, vive uma
família com renda de R$ 600 mensais: pai, mãe e três filhos. Um deles, Renan,
uma criança de 12 anos, havia passado a noite anterior e o dia inteiro gemendo
e paralisado na cama. A vida dele nos últimos seis anos tem sido assim. Um
grande sofrimento diário e uma rotina que o leva da casa para o posto de saúde
onde chega sem nenhuma garantia de atendimento. Os pais gastam mais de R$ 1 mil
por mês com remédios para o menino. Contam com a ajuda de amigos.
Renan
sofre de uma doença rara que interrompeu seu crescimento. Uma doença
praticamente irreversível que provoca o encolhimento do seu corpo e que o
transforma aos poucos em um bebê. Drama tão raro que já rendeu filme sobre o
tema em Hollywood. A votação na Assembleia de Minas Gerais deu dinheiro extra
aos parlamentares mineiros. Mesmo para aqueles que possuem casa própria. Mas
não foi somente isso. Além do péssimo exemplo para a sociedade e para as novas
gerações, demonstrou desprezo pelos problemas e aflições vividas diariamente
pelo povo sofrido e trabalhador que, no final das contas, é quem lhes paga os
salários.
Revelou
também um lado perverso do nosso parlamento. Uma instituição que parece viver
no mundo da fantasia e do faz-de-conta. Alheia aos escândalos de corrupção, à
roubalheira do dinheiro público e às dificuldades de todos os tipos que o país
e seu povo enfrentam.
Mais
do que dar um tapa na cara da sociedade e dos movimentos sociais que batalham
para ver a Constituição ser cumprida, quando ela fala que todos têm direito a
moradia, a Assembleia de Minas, com esse ato indigno e debochado, deu um soco
no estômago do pequeno Renan (de mais de 5 milhões de famílias sem-casa no
Brasil).
Logo
nele, Renan, o menino que merece toda a atenção do mundo por não ter casa para
morar, médico para se cuidar e nem dinheiro para comprar remédios que aliviem
suas dores. Mas que, ironicamente, apesar de nossos políticos, sobrevive
desprezado e sem auxílio na Ocupação Esperança.
Obs.: O texto, acima, foi originalmente
publicado no link, abaixo:
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