Minerar em AREDES: golpear a história, matar águas! Por frei Gilvander Moreira[1]
Fotos feitas durante Visita Técnica da Dep. Bella Gonçalves, Dep. Tito e Dep. Ricardo Campos à Estação Ecológica AREDES, em Itabirito, MG, dia 10/08/23: Reprodução/Mov. SOMOS AREDESPara atender aos interesses capitalistas
e particulares da mineradora Minar, o deputado estadual João Magalhães (PMDB)
apresentou o PL 387/23, que está tramitando na Assembleia Legislativa de Minas
Gerais (ALMG). Mesmo eivado de inverdades, ilegalidades e
inconstitucionalidade, de forma muito estranha e suspeita, este projeto de lei,
muito mal escrito, aliás, já foi aprovado na Comissão de Constituição e Justiça
(CCJ) da ALMG e está agora sendo apreciado pela Comissão de Meio Ambiente da
ALMG. Projetos semelhantes ao PL 387/23 para retomar mineração em Aredes já
foram arquivados nas últimas legislaturas na ALMG. É a terceira vez que a
mineradora Minar insiste em tentar sacrificar de forma brutal e assustadora a
Estação Ecológica de AREDES, no município de Itabirito, MG.
Dia 10 de agosto de 2023 aconteceu
Visita Técnica da Comissão de Meio Ambiente à Estação Ecológica de Aredes.
Participaram a deputada Bella Gonçalves, que defende que o PL 387/23 deve ser
arquivado, e os deputados Tito Torres (PSD) e Ricardo Campos (PT). Aredes está
distante de Belo Horizonte
uns 50 Km. Após deixar a BR 040 e entrar em estrada de terra para chegar à
Estação Ecológica de Aredes, assustado, tive a impressão de estar adentrando em
uma zona de guerra: carretas de mineração, que são verdadeiros tanques de
guerra, em trânsito frenético, indo e voltando; caminhões-pipas molhando a
estrada – Haja água para abrandar tanta poeira! Enquanto milhares de bairros
sobrevivem com migalhas de água nas 34 cidades da Região Metropolitana de Belo
Horizonte (RMBH), caminhões-pipas de mineradoras jogam água em estradas, desperdiçando
este bem precioso para auferir acumulação de capital para mineradoras com
ganância sem fim. Até quando esta injustiça perdurará?
Atento para não ser atropelado por
carretas de mineração, vi barragens e crateras de mineração ao longo de todo o
caminho até Aredes. Barragem da mineradora Herculano, que, em 2014, matou três trabalhadores
durante o seu rompimento, que inundou de lama tóxica o córrego Silva, afluente
do rio Itabirito, vale do rio das Velhas; avista-se a mina Várzea do Lopes, da
mineradora Gerdau na Serra da Moeda. Muito difícil chegar a Aredes sem guia que
conheça a região, pois a estrada se mistura com muitos outros acessos exclusivos
da mineração. No sítio histórico e arqueológico de Cata Branca, próximo a
Aredes, aconteceu uma tragédia eufemisticamente chamado de acidente por volta
do ano de 1844, no qual dezenas de trabalhadores, a maioria negros escravizados,
foram mortos, sepultados vivos com o desabamento de uma galeria subterrânea de
mineração. Quem não morreu no desabamento da
rocha, morreu afogado, depois que os administradores ingleses desistiram dos
trabalhos de resgate e desviaram um curso d’água para inundar a mina. O
local é considerado até hoje assombrado devido ao terror causado pela mineração.
Ao chegar à Estação Ecológica de Aredes,
somos tomados por uma emoção indescritível por ver e caminhar em um espaço
histórico e arqueológico sagrado. Interiormente ouvi a voz de Deus que disse a
Moisés no monte Horeb: “Tire as sandálias, pois este lugar é sagrado” (Êxodo
3,5). O ar, as paredes, as portas e os inumeráveis testemunhos históricos e
arqueológicos ali existentes gritam exigindo respeito, reverência e cuidado.
Uma maravilha histórica e arqueológica rodeada por mineradoras que de forma
impiedosa e com ganância sem fim transformam aquele território em “zona de
guerra”, território que está sendo sacrificado no altar do ídolo mercado há 300
anos. Sem ser técnica no assunto, uma pessoa sensata, ao contemplar a maravilha
da Estação Ecológica Aredes e o entorno já tão brutalmente mutilado pelas
mineradoras, conclui que é inadmissível permitir que a mineradora Minar retome
mineração em Aredes! Basta de mineração devastadora!
Sob direção de Mauro Souza, foi
apresentada uma Peça de Teatro de São Gonçalo do Bação, inspirada na robusta
obra “Aredes - recuperação ambiental e valorização de um sítio
histórico-arqueológico”, publicada em 2016, pela arqueóloga Alenice Baeta.
Emocionante ver e ouvir o resgate da história de Aredes, local que foi o marco
zero do município de Itabirito. Também em uma performance magistral denunciando
a atrocidade que seria retomar mineração em Aredes, o artista Carlos do Carmo bradou:
“Não nos calaremos na defesa das montanhas e das águas de Aredes, do ambiente
com todo seus valores históricos culturais. Se nos calarmos, as montanhas
gritarão!”
A professora Alenice Baeta, pós-doutora
em arqueologia, deu uma aula magna ao narrar um pouco da exuberante história de
Aredes, as sucessivas pesquisas e recuperação ambiental desenvolvidas na
localidade, indicando o cuidado permanente de vários multiprofissionais com a
Estação Ecológica de Aredes.
Foi inesquecível ver também muitas
pessoas de Itabirito defendendo com intrepidez que o PL 387/23 precisa ser
arquivado urgentemente na ALMG. A Mineradora Minar deixou três crateras de
mineração abertas em Aredes, um brutal passivo ambiental. O Ministério Público
de Minas Gerais por meio de parcerias e acordos desenvolveu vários projetos de
reabilitação e valorização na área; um de reconversão de território, que
realizou o preenchimento das três grandes crateras que tinham sido deixadas pela
Mineradora Minar no entorno das estruturas arqueológicas; uma delas situava-se
rente a trecho de muro da antiga Fazenda Aredes, ameaçando a sua integridade.
Este local precioso remanescente tornou-se parte da Unidade de Conservação
Estação Ecológica Aredes, em 2010. Se não fosse feita esta reconversão de
território com o preenchimento da grande cava/cratera, possivelmente parte do muro
histórico e arqueológico já teria desabado.
Agora, em 2023, pela terceira
legislatura consecutiva, a mineradora Minar insiste, de forma absurda e
injustificável, em voltar a minerar em território já pertencente à Estação
Ecológica de Aredes, em uma montanha de campos rupestres e ferruginosos, que
está apenas a poucos metros de distância de estruturas históricas e
arqueológicas de Aredes. Este PL 387 é um desrespeito, uma violação de várias
leis ambientais e patrimoniais e uma agressão infame à história de Aredes e à sua população.
Além da devastação histórica,
paisagística e arqueológica, retomar mineração em Aredes afetará de forma
mortal os córregos Silva e Aredes, que são afluentes do rio Itabirito, que
abastece a cidade de Itabirito e fundamental para o abastecimento público de
Belo Horizonte e Região RMBH por ser um dos principais afluentes do rio das
Velhas. Portanto, retomar mineração em Aredes reduzirá ainda mais as já
escassas fontes de água que abastecem 6 milhões de pessoas em Belo Horizonte e
RMBH.
Os argumentos da mineradora Minar que alegam ser
possível compatibilizar retorno de mineração no aquífero de Aredes são
falácias, cria mineriodependência e mata muitos empregos que a diversificação
econômica e sustentável pode gerar.
Portanto, inadmissível alterar os limites da Estação Ecológica de Aredes já integrados e conectados, para que a mineradora Minar possa de novo sacrificar e mutilar territórios que compõem Aredes, imprescindíveis para a conservação ambiental de Itabirito e da Reserva da Biosfera. Arquive já o PL 387/23 e deixe Aredes em paz!
15/08/2023.
Obs.: As videorreportagens nos
links, abaixo, versam sobre o assunto tratado, acima.
1 - Alenice
Baeta: violência da MINAR sobre a E.E. AREDES e sítio arqueológico,
Itabirito/MG. 15/4/19
2 - Visita
Técnica de deputados/a à Estação Ecológica de AREDES, em Itabirito/MG. Arquive
o PL 387/23!
3 - Peça
de Teatro sobre História de AREDES, Itabirito/MG: Arquive PL 387/23 que visa
minerar em AREDES!
4 - Trabalho
arqueológico na Estação Ecológica de AREDES, em Itabirito/MG: Arquive o PL
387/23 na ALMG!
5 - Exposição
AREDES na Estação Ecológica de AREDES, Itabirito/MG: Arquive o PL 387/23, que
visa minerar
6 - No
interior de uma das ruínas da Estação Ecológica de AREDES, em Itabirito/MG:
Arquive o PL 387/23!
7 - Crateras
deixadas pela Minar foram convertidas ambientalmente: Estação Ecológica
AREDES/Itabirito/MG
8 - Em
região já sacrificada por mineradoras, Minar insiste em minerar na Estação
Ecológica AREDES. NÃO!
[1]
Frei e padre da Ordem dos carmelitas; doutor em Educação pela FAE/UFMG;
licenciado e bacharel em Filosofia pela UFPR; bacharel em Teologia pelo
ITESP/SP; mestre em Exegese Bíblica pelo Pontifício Instituto Bíblico, em Roma,
Itália; agente e assessor da CPT/MG, assessor do CEBI e Ocupações Urbanas;
prof. de Teologia bíblica no SAB (Serviço de Animação Bíblica), em Belo
Horizonte, MG; colunista dos sites www.domtotal.com
, www.brasildefatomg.com.br
, www.revistaconsciencia.com
, www.racismoambiental.net.br
e outros. E-mail: gilvanderlm@gmail.com
– www.gilvander.org.br
– www.freigilvander.blogspot.com.br
– www.twitter.com/gilvanderluis
– Facebook: Gilvander Moreira
III
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