Reportagem
da TV Record calunia, difama e criminaliza as Ocupações da Izidora. Nota Pública.
Ontem,
dia 14/05/2015, reportagem da TV Record, lamentavelmente, caluniou, difamou e
criminalizou o povo das Ocupações da Izidora, Ocupações Rosa Leão, Esperança e Vitória,
cerca de 8.000 famílias. E pior, pavimenta e estimula a realização de despejos
forçados, o que pode causar a maior violação de direitos da história de MG.
O
título da reportagem - Caos em Ocupação: “terra sem lei” - é uma grande mentira
que atiça a violência do Estado sobre milhares de famílias trabalhadoras que
estão de forma justa e legítima lutando para se libertar da pesadíssima cruz do
aluguel e conquistar moradia digna. É mentira dizer que em quase dois anos a PM
está proibida de entrar nas Ocupações da Izidora, porque há barricadas etc. As
barricadas só foram feitas em agosto de 2014 quando havia fortíssima pressão
para realizar os despejos. Logo após retomarmos as negociações sob a liderança
do Ministério Público, em setembro de 2014, as barricadas foram desfeitas.
Mas
é preciso entender o contexto que levou à recolocação das barricadas apenas em
um dia, retiradas depois, na data 11/05/2015. Na Mesa de Negociação e Diálogo
os empresários (o capital) propõem e o Governo de MG e PBH pressionam: é
aceitar a proposta da Direcional ou despejo! Diante do maior conflito fundiário
do Brasil, que envolve milhares de famílias das 3 ocupações da região da
Izidora, a latifundiária família Werneck, a Construtora Direcional e o Governo
de Minas têm jogado sujo. Ao contrário do que disse a matéria, a PM entrou nas
comunidades, causando constrangimento e medo, com carro de som escoltado pela
PM, dia 11 de maio de 2015, e ainda distribuindo panfletos, dia 05/05/2015, que
buscam enganar as famílias. Com essa propaganda querem impor uma única solução
para o conflito: a proposta das empresas, que significa o investimento público
(dinheiro nosso) no despejo das comunidades e na construção do
megaempreendimento do Programa Minha Casa, Minha Vida (MCMV), com a garantia do
máximo de lucros, mais de 400 milhões de reais para a Direcional.
Criado
após a crise internacional de 2008, o MCMV, maior programa habitacional do
país, deveria ser motivo de orgulho pra toda população. Porém, lamentavelmente,
o MCMV tem produzido pelo Brasil afora empreendimentos de milhares de unidades,
sem qualidade e sem infraestrutura urbana adequada, que só alimentam os bolsos
das construtoras. Cerca de 70% dos recursos do Programa, nas duas primeiras
fases, beneficiaram 10 consórcios de empresas, entre elas a Direcional que,
aliás, é uma das maiores financiadoras de campanhas eleitorais do país.
Por
que a Imprensa não divulga esse contexto mais profundo?
Logo,
foi para se defender que o povo recolocou as barricadas dia 11/05/2015. Exceto
os momentos de tensão para se realizar os despejos, a PM teve sempre acesso
totalmente livre às Ocupações nestes dois anos de história e luta. Ainda não
podemos negar o acesso do braço armado do Estado às nossas comunidades,
enquanto não desenvolvemos nossos sistemas de segurança comunitária e popular,
também dependemos do trabalho da polícia e ela, nesse tempo todo, teve livre
acesso em nossas comunidades, ainda em que suas ações fossem repletas de
desrespeito, arbitrariedades e violências injustas e indiscriminadas contra
nossas famílias.
A
reportagem ouviu um comerciante sentindo-se ameaçado por alguém que ele diz
estar nas ocupações, mas a visão predominante entre os comerciantes e moradores
da região é de apoio às ocupações. Reconhecem que o povo ocupou os terrenos
abandonados por necessidade, porque estavam sem-casa e têm direito de lutar
para conquistar moradia própria e digna. Essa é a visão predominante na região.
Logo, pegar um caso e generalizar é agredir a dignidade de milhares de pessoas
que vivem nas ocupações e são pessoas trabalhadoras: domésticas, vigias,
serventes, pedreiros, taxistas, secretárias etc, normalmente, profissões
manuais, que são imprescindíveis no funcionamento da cidade. Se a força de
trabalho dos milhares de famílias é querida pelo mercado e pela sociedade, por
que a dignidade desse povo não pode ser respeitada?
As
ocupações não são terra sem lei. São territórios-comunidades em franco processo
de consolidação, com regimento interno com uma série de regras a serem
seguidas, com coordenação, assembleias de organização interna semanais como o
repórter comenta e admite, com índices de violência muito baixos em comparação
a maioria dos demais bairros “formais” (reconhecido inclusive pela própria PM)
e, acima de tudo, com luta coletiva para que um direito constitucional, que é o
de morar dignamente, seja conquistado. As Ocupações são territórios
constitucionais e como tais são acompanhados por movimentos sociais como as
Brigadas Populares e o MLB e também acompanhados pela Comissão Pastoral da
Terra da Igreja Católica.
Já
fizemos várias reuniões com comandantes da PM buscando diálogo e exigindo que a
PM cumpra sua missão de promover a segurança pública no interior das ocupações,
mas sem pisar na dignidade de pessoas trabalhadoras, discriminando-as,
desrespeitando-as e violando seus direitos, tal como recorrentemente ocorre. É
preciso que o Estado e a Polícia Militar compreendam que as famílias ocupantes são
cidadãs e seus membros sujeitos de direitos e devem ser tratados como tal.
Ouvir
um policial e generalizar como se ele representasse toda a PM também é
injustiça, pois criminaliza milhares de pessoas ao generalizar casos
particulares, que são exceções e não a regra. Há muitos policiais que
reconhecem a justeza da luta do povo das ocupações. As ocupações não são
perfeitas, mas não é justo julgar o povo pelas exceções que não são regras. A
regra é que nas ocupações estão pessoas trabalhadoras, honestas e lutadoras por
seus direitos. Pessoas que cometem atos ilícitos há em todos os setores da
sociedade, por exemplo, entre 20 mil pessoas no Brasil que tem foro
privilegiado, o que é uma excrescência, é cuspir no rosto dos pobres. Ou há
cerca de pouco mais de um ano a sociedade mineira não foi testemunha de um caso
de tráfico internacional de drogas, realizado com suporte de recursos de nossa
própria assembleia estadual - o caso popularmente conhecido como Helicóptero do
Pó, cujo o principal suspeito, ex-deputado de Minas Gerais, está sendo
absurdamente inocentado por nossas instituições corrompidas?
Enfim,
a questão que envolve as Ocupações da Izidora é uma questão social que jamais
se resolverá de forma justa e pacífica com polícia e com repressão. Por que uma
reportagem que dá mais voz a um policial que tem preconceito contra o povo das
ocupações e a um comerciante que não representa a maioria dos comerciantes? Por
que não ouvir mais os moradores e a vizinhança que apoia as ocupações? É
evidente e transborda aos olhos dos telespectadores e cidadãos mineiros a
ausência total de ética, transparência e compromisso com a verdade da rede de
Televisão Record. É lamentável que nossa sociedade não se revolte contra meios
de comunicação que prestam mais bem um desserviço à humanidade, à
sensatez, à justiça e à paz.
Repudiamos
esse tipo de reportagem, porque fomenta e alimenta a orquestração para se
tentar despejar de forma forçada, o que poderá causar um massacre sem
precedentes em Minas Gerais.
Belo Horizonte, 15 de
maio de 2015.
Assinam essa Nota
Pública:
Coordenações das
Ocupações Rosa Leão, Esperança e Vitória.
Brigadas Populares –
Minas Gerais
Comissão Pastoral da
Terra (CPT-MG)
Movimento de Luta nos
Bairros, Vilas e Favelas (MLB)
Maiores
informações nos blogs das Ocupações, abaixo:
“Nossos
direitos vêm...” Pátria Livre! Venceremos!
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