A IZIDORA RESISTE, coluna de Guilherme Boulos,
no Jornal Folha de São Paulo (FSP), dia 25/06/2015.
Leia o texto,
abaixo, e entenda o Conflito que envolve 8 mil famílias das Ocupações Rosa
Leão, Esperança e Vitória, Ocupações da Izidora, em Belo Horizonte e Santa
Luzia, MG. E contribua para que um dos maiores conflitos fundiários e sociais
seja superado com justiça, ética e de forma pacífica.
A IZIDORA RESISTE, coluna de Guilherme Boulos,
na FSP, dia 25/06/2015.
Se
pegarmos os primeiros mapas de Belo Horizonte veremos ali o ribeirão da
Izidora, que deu nome a uma região posteriormente grafada como Isidoro. Local
de resistência, ali estabeleceu-se o Quilombo das Mangueiras e consta que o
nome original fazia referência a uma escrava alforriada, a Izidora.
A
mudança oficial da grafia não encerrou a história de resistência. Em 2013, com
o agravamento da especulação imobiliária na cidade, milhares de famílias
organizaram três grandes ocupações na região. Rosa Leão, Esperança e Vitória
reúnem mais de 8.000 famílias de trabalhadores sem-teto.
A
região metropolitana de Belo Horizonte concentra o terceiro maior déficit
habitacional do Brasil: são 148 mil famílias sem moradia digna. O aumento desse
número, identificado pela Fundação João Pinheiro, segue um padrão da maioria
das metrópoles do país. E está relacionado ao aumento extorsivo no valor dos
aluguéis urbanos.
Raquel
de Mattos Viana, uma das pesquisadoras envolvidas no estudo oficial do déficit
habitacional, declarou: "O ônus excessivo com aluguel é um componente que
tem grande peso nas regiões metropolitanas brasileiras. Nos últimos anos, houve
um 'boom' imobiliário nessas regiões, o que influenciou o aumento do valor dos
aluguéis". Em Belo Horizonte, o valor do metro quadrado aumentou 107% em
cinco anos, de acordo com o índice Fipe/Zap.
Isso
não é novidade para os moradores das grandes cidades, principalmente os mais
pobres. O aumento do aluguel tem expulsado silenciosamente as famílias
trabalhadoras para regiões mais periféricas. Junto com a piora das condições de
moradia e o comprometimento do orçamento doméstico, esses deslocamentos
forçados significaram piora no acesso aos serviços básicos e na mobilidade.
Quanto mais longe do centro, piores as condições.
Mas
a expulsão gerou resistência. Centenas de ocupações surgiram nos últimos anos
nas cidades brasileiras. As três da Izidora nasceram nesse contexto.
Hoje,
depois de dois anos, há ali um bairro consolidado. Das 8.000 casas erguidas com
as próprias mãos, mais de 5.000 são de alvenaria. A comunidade se organizou e
mesmo na total ausência do Estado criou suas condições de convivência, com a
contribuição decisiva de movimentos como as Brigadas Populares, o MLB
(Movimento de Luta nos Bairros e Favelas) e a Comissão Pastoral da Terra.
Mas,
ao mesmo tempo, longe da Izidora e sem diálogo com os moradores, o prefeito
Marcio Lacerda (PSB), o então governador Antonio Anastasia (PSDB) e a Caixa
Econômica Federal negociavam com a empreiteira Direcional –dona dos terrenos– a
implementação de um megaprojeto na área.
A
proposta seria a construção de um empreendimento de 8.896 apartamentos pelo
programa Minha Casa Minha Vida, com moradias-caixotes de 43 metros quadrados e
sem a garantia de que os atuais moradores seriam atendidos.
Aliás,
mesmo que houvesse essa garantia, o que justificaria demolir mais de 8.000
casas já construídas para construir 8.000 apartamentos em cima delas? Não seria
muito mais lógico o poder público desapropriar o terreno e repassar os lotes já
existentes para os seus moradores?
Seria
sem dúvida a melhor solução do ponto de vista social e urbano, mas neste caso a
empreiteira não ganha. Se a empreiteira não ganha, então não pode. E caso
encerrado. A propósito, não estamos falando de bagatelas: pelas regras do
programa, a construtora receberá cerca de R$ 750 milhões para realizar o
empreendimento, a maior parte em recurso federal e outra da Prefeitura de Belo
Horizonte.
Na
semana passada, o caso das ocupações da Izidora voltou ao cenário nacional com
a decisão do governador Fernando Pimentel (PT) de executar a ordem de despejo.
Mesmo sem acordo nas negociações, o governo deu 15 dias de prazo e deixou claro
que poderá colocar a PM para expulsar as famílias da Izidora.
O
mesmo Pimentel, na campanha eleitoral, havia se comprometido com os movimentos
sociais de que não ocorreriam despejos em Minas sem alternativa para as
famílias removidas. Parece que de outubro passado até aqui, a crise de amnésia
tornou-se uma epidemia na política brasileira.
Se
o governo insistir na política do confronto, poderemos ter um massacre nas
próximas semanas em Belo Horizonte. As cenas tão lamentáveis do despejo do
Pinheirinho, em São José dos Campos (SP), poderão se repetir.
As
famílias da Izidora, sem alternativa, certamente resistirão. Resta saber se a
inconsequência do governo tucano de São Paulo em 2012 será repetida pelo
governo petista de Minas Gerais em 2015. Esperamos todos que não.
Obs.: Pedimos a quem puder, por favor, divulgue
ao máximo o texto, acima.
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