Apelo
às Autoridades Mineiras: Pelos Sem-teto da Izidora.
Por Antônio Pinheiro,
comendador do Vaticano no Brasil.
(Publicado no Jornal
O TEMPO, dia 25/06/2015)
O Brasil é o país mais católico do
mundo, segundo afirma o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE
-, e em nome disso, venho solicitar às nossas autoridades o cumprimento do
pedido de Jesus: “Eu vim para que todos tenham vida” (Evangelho de João 10,10).
Existem hoje oito mil famílias de “sem
teto” ocupando uma área conhecida como Granja Werneck, situada na região norte
da cidade de Belo Horizonte. Ali chegaram com barracas de lona e, pouco a pouco,
foram construindo alguns cômodos para abrigar suas famílias. A maioria está
desempregada, vivendo do trabalho informal e com renda de zero a um salário
mínimo, logo não tem condição de pagar por moradia e prover o sustento dos
filhos.
O
aluguel de um barraco na favela custa em torno de quatrocentos a quinhentos
reais. Como um pai de família que ganha setecentos e oitenta e oito reais (salário
mínimo) pode pagar um aluguel de quinhentos reais e mais conta de água, luz,
gás, alimentação, saúde e transporte? Além do mais, essas famílias vivem à
margem da sociedade, pois não são recebidas nos postos de saúde do SUS (Sistema
Único de Saúde), não conseguem matricular seus filhos nas escolas públicas, e
são recusadas em entrevistas para emprego quando informam que moram em um
acampamento de “sem teto”.
Como
se não bastassem todas as dificuldades enfrentadas por essas famílias, elas
vivem hoje um momento de angústia, desespero e revolta, diante da sentença de
despejo proferida pelo Judiciário Mineiro. Muitas pessoas que ali moram
disseram que preferem morrer a ser despejadas nas ruas com suas famílias.
Segundo denúncia do nosso Arcebispo Dom Walmor Oliveira de Azevedo morreram nas
ruas da capital mineira, nos últimos dois anos, mais de cem moradores de rua e
nenhuma investigação foi feita, pois eram cidadãos pobres “sem teto”.
Apelo
ao espírito de justiça social, e também ao espírito cristão de nossas
autoridades, para que não despejem essas famílias nas ruas, e busquem uma
solução digna para que elas tenham seus direitos constitucionais respeitados - Artigo 6°: São direitos sociais a educação,
a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a
previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos
desamparados, na forma desta Constituição.
O
despejo dessas famílias configura descumprimento da Lei Maior, isso não seria um
crime? Como aceitar que o Estado de Minas Gerais governado por um líder do
Partido dos Trabalhadores não tenha uma política de habitação para abrigar
essas famílias? Como aceitar que oito mil famílias, na sua maioria chefiadas
por mulheres com três a quatro filhos, sejam despejadas nas ruas, sem nenhuma
assistência dos órgãos públicos? Tal
tratamento é desumano e cruel, e não pode ser aceito por uma nação que se diz Cristã.
Antonio
Pinheiro – Comendador do Vaticano
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